Vale do Fim | Capítulo 24 (Parte 3)

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Capítulo 24 - A Cobaia (Parte 1)
Santiago sentia-se triste ao olhar para Edgar. Ele estava cada
vez mais afectado com a doença e o sangue que ele tinha colectado de
Adão não iria ser suficiente para mais de duas semanas. Ele já não era o
rapaz que dava luta, que queria lutar para sair dali. Naquele momento
estava a dar-se por vencido. O cabelo caíra-lhe há pouco mais de seis
meses. Foi um trauma para Edgar e para ele. Para Edgar porque ficar
careca e cheio de feridas na cabeça e ao longo do corpo era sinal que
algo não estava bem e para Santiago era um trauma por não saber como o
ajudar. Desde a sua adolescência que cresceu a ouvir o pai dizer que o
híbrido, além de uma excelente máquina de guerra era capaz de curar
todas as doenças do mundo. Ele descobria que não era verdade. Edgar
andava a levar transfusões de sangue de Adão há cerca de um ano, e,
mesmo melhorando durante uma semana aquela doença voltava. August e
George poderiam ter criado algo que acabasse com todas as doenças
conhecidas até àquele momento mas tinham criado uma outra bem mais
resistente que qualquer uma das outras.
- Vou-te deixar só!
Preciso que penses e enchas esse frasco. Eu preciso do teu esperma
Edgar. Doente e sem nos dar provas de nada o George não te vai manter
aqui muito mais tempo, eu preciso de fazer algo mesmo que não dê em
nada. O teu futuro está nas tuas mãos.
- Que futuro? Este? –
Edgar mostrou-lhe as unhas que ainda tinham vestígios da pele que se
soltara quando ele coçara a cara. – Eu não tenho futuro! Nenhum de nós
vai ter futuro. Tu não conheces nada sobre esta doença no entanto vens
cá sem qualquer espécie de fato que não tenhas contacto directo comigo.
Se isto se transmitir de pessoa por pessoa tu podes estar contaminado!
Aquela declaração fez Santiago arrepiar-se. Era uma declaração
totalmente verdadeira. Estavam a lidar com algo totalmente desconhecido
mas ele nunca se importara de se deslocar até ele sem qualquer tipo de
vestimenta especial. Para ele, Edgar era apenas um jovem adulto de vinte
e seis anos que ele tinha o objectivo de salvar.
- Edgar,
acho que está na altura de te contar a verdadeira razão para que quero o
teu esperma. – Declarou o cientista e o jovem arregalou os olhos. – Eu
sei que sempre pensaste que era para criar uma nova linhagem de
híbridos. E é essa a versão oficial, mas nunca a versão verdadeira. Essa
é apenas a versão que o meu pai tem de saber. Ele pensa que o sangue do
Adão já te salvou que estás livre da doença.
O rapaz ficou
surpreendido com aquelas palavras. Qualquer um ficaria ao olhar para o
estado fragilizado de Edgar, por sorte o seu pai nunca quis se dirigir
até ele e por essa razão pensa que é a verdade.
- Eu preciso
do teu esperma para criar a cura! A cura para ti, para a Alina, para o
Raul que felizmente não morreu e encontra-se a fazer voluntariado em
África, e, embora ainda esteja no inicio, já começa a apresentar os teus
sintomas. O sangue do Adão apenas vos retarda a doença, não a cura. Eu
preciso de criar uma linhagem tua, uma linhagem que traga no sangue a
tua doença. Poderá ser ela que salve a humanidade da doença negra. Eu
não sei se ela é transmissível de pessoa para pessoa mas se for, tu não
ficarias orgulhoso por ser aquele que salvava a humanidade de tal
apocalipse?
Edgar ficou a olhar para ele. Não sabia o que
dizer. Talvez tivesse ficado um pouco sem reacção depois de ouvir sobre a
verdadeira razão do pedido de esperma.
- Vou pensar! – Disse ele por fim.
- Tudo bem, eu voltarei cá amanhã. Lembra-te que descobrir a cura pode
demorar anos e criar um bebé demora meses. Tu estás a avançar na doença…
estamos a lutar contra o tempo Edgar. Pensa rápido.
Santiago
deixou o quarto e o corredor vazio onde se encontrava. Sentia falta do
tagarela do Adão, mas ele precisava de ir ter com a mãe dele, precisava
de lhe dar um pouco de sangue pelo menos uma vez por semana para que ela
não morresse. Ele não conhecia bem Alina mas sabia a sua história. Ela
não merecia morrer sem saber o que era a verdadeira felicidade, sem
saber o que era uma verdadeira família ao seu lado. No que dependesse
dele, ela saberia muito bem o que iria ser isso.
Olhou para o
relógio e percebeu que já era um pouco tarde para o procedimento no
Quarto da Ovelha, o seu pai já deveria estar prestes a ter um ataque com
aquele atraso. Ele odiava atrasos, principalmente quando era algo
relacionado com aquela divisão da Área X.
Quando chegou à
porta o seu pai estava mesmo furioso. Começou a dirigir-se até ele e
deu-lhe um grande murro na cara e quando ele caiu no chão ele baixou-se
eu deu-lhe mais um murro em cada uma das faces. Com a cara dorida, abriu
os olhos e pôde ver uma raiva que nunca tinha visto na cara do seu
progenitor. Ao lado dele encontrava-se a cozinheira, a mesma que tinha
deixado a tampa do tacho cair ao lado do seu gabinete. Ela devia ter
ouvido toda a conversa e contou a George. Santiago sabia que não podia
confiar em ninguém, mas agora sabia que não podia confiar nem nas
paredes.
- Onde estavas com a cabeça? Como podes ter deixado o
híbrido ir-se embora meu grande cabrão! Tens noção que deixaste escapar
a nossa peça chave?
- Ele não é um objecto! – Confrontou-o
ainda deitado no chão. – Ele é um rapaz acima de tudo, não o objecto que
podes controlar. Além disso a mãe dele precisa da sua ajuda mais do que
ninguém.
- Eu quero que a mãe dele morra longe! – Disse
George cada vez mais enraivecido. Como podia ele não nutrir sentimentos
por sangue do seu sangue. – Sabes que é por causa dessa cabra a quem tu
deste o híbrido que eu uso uma bengala. Agora fazes-me ir para Vale do
Fim para recuperá-lo! Sabes que eles podem não sair vivos desta minha
visita não sabes?
Santiago levantou-se e limpou a cara. Pensou que George lhe fosse dar um murro mas isso não aconteceu.
- Eu preciso de ir. Eu conheço o Adão melhor que todos os que estão aqui.
- Queres continuar a comer-me por estúpido Santiago?! Tu ficas aqui,
infelizmente não tenho mais ninguém para ocupar o meu lugar. Comigo irão
o Joel e trinta deles.
Santiago não queria acreditar no que
estava a ouvir. O pai não podia estar a falar a sério. Ia levar trinta
deles? Não, não podia… isso era uma loucura.
- Eles não estão preparados? Eles não devem sair do laboratório.
- Estão mais que preparados! E vão… vão eles e vamos nós!
George saiu do corredor destinado a voltar a Vale do Fim. Ele tinha de
avisar Renato, eles tinham de estar preparados para o que estava a
chegar lá. Antes disso teve que ir até à casa de banho. Tinha a cara a
sangrar, precisava de se limpar. Olhou-se ao espelho e limpou a cara. Um
dos murros devia ter-lhe acertado no nariz pois ele não parava de
deitar sangue. Sentia-se tonto e cheio de comichão no braço direito.
Coçou e sentiu pele soltar-se deixando-o a sangrar. Ficou com medo,
aquilo seria a doença negra ou a força do seu pai?
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